12 de dezembro de 2010

População de Aracruz ficará sem atendimento na UTI do Hospital São Camilo a partir de sábado

Com uma dívida de R$ 918 mil, o Conselho Curador do Hospital decidiu suspender os serviços de UTI e UADC no próximo sábado (11) para não agravar a situação financeira da instituição

Responsável por quase 70% de atendimentos a pacientes de Aracruz, a UTI do Hospital e Maternidade São Camilo vai amanhecer fechada neste sábado (11). A decisão é do Conselho Curador da Fundação que mantém a unidade filantrópica, feita em ofício datado de 25 de novembro último, de número 074, no qual comunica ao prefeito Jones Cavaglieri a suspensão temporária dos atendimentos aos pacientes da UTI e da Unidade de Alta Dependência de Cuidados (UADC), a partir do dia 11 de dezembro.


  O motivo do fechamento é evitar a descapitalização do hospital, devido ao déficit mensal de cerca de R$ 435 mil. O Conselho alega que se a medida não for tomada, haverá o fechamento de outros setores. No documento assinado pelo presidente do Conselho Curador, Christopher Quiñonez Oliveira Diaz, e pela diretora-geral interina do Hospital São Camilo, Maria Bernardete Braz, são enumerados diversos motivos que levam à decisão extrema do fechamento da UTI. Seis conselheiros também assinam o documento: Elizerino Giacomin (representante da CDL), Idivaldo Moro Capo (Loja Maçônica Rufino Manoel de Oliveira), Sueli Oliveira Quiñonez (Conselho Consultivo), Larissa Felício (Prefeitura de Aracruz), Edimar Giacomin (Lions Clube) e Elias Duarte (Igreja Assembleia de Deus).
  Os conselheiros argumentam que muitas reuniões foram realizadas nos anos de 2007 e 2008, quando a Fundação apresentou sua última proposta à secretaria estadual de Saúde, aprovada pelo Conselho Curador, de R$ 1,1 mil a R$ 1,2 mil por leito/dia, o que não foi aceito pelo secretário Anselmo Tozi, que propôs repassar uma diária de R$ 640,00 por leito/dia, referente à política de incentivo a ampliação e otimização dos serviços de UTI nos hospitais filantrópicos, para garantir a manutenção dos leitos de UTI e UADC, que há algum tempo vinham sendo penalizados com uma diária de R$ 341,00.
  Por ser um hospital de média complexidade e em virtude da realidade de UTIs no Brasil, com altos custos, a maior preocupação da instituição era abrir esses leitos e logo em seguida ter que desativá-los quando comprovado que o valor proposto não seria suficiente para cobrir todos os custos. A Fundação acabou aceitando a proposta, mas com a promessa do secretário de que, após três meses de funcionamento, se comprovado o déficit, a secretaria estadual subsidiaria, por meio de convênios de custeio, os resultados negativos.
  No dia 31 de agosto deste ano, não vendo retorno financeiro satisfatório, o Conselho Curador e a diretoria da Fundação decidiram suspender todos os atendimentos na UTI e UADC. Diante da situação, o prefeito Ademar Devens (hoje afastado do cargo por decisão judicial) solicitou um prazo para resolver a questão junto ao Governo do Estado. A resposta não veio e no dia 16 de novembro foi solicitada uma posição da prefeitura, em virtude da grave situação. Já em 23 de novembro foi encaminhado o ofício 072, anunciando o fechamento dos leitos às 10 horas do dia seguinte.
  Os conselheiros aguardaram por uma decisão da prefeitura e da secretaria estadual de Saúde até esta semana, e diante do exposto, o Conselho Curador e a diretoria da Fundação resolvem, por unanimidade, pela suspensão de todos os atendimentos na UTI e UADC, até que as autoridades competentes se posicionem no sentido de buscar uma solução que possa evitar não somente a suspensão temporária do atendimento, mas o fechamento definitivo das duas unidades.
  Internando quase 70% de pacientes residentes no município de Aracruz, a UTI do Hospital Maternidade São Camilo, inaugurada em dezembro de 2008, acumula débitos no valor de R$ 900 mil. No primeiro ano de funcionamento foram 297 pacientes internados na UTI, sendo 185 de Aracruz, o que representa 62,8% dos atendimentos.
  O presidente do Conselho Curador, Christhoper Quiñonez, disse que "a previsão, com a UTI aberta até o final deste ano, é acumular um prejuízo de mais R$ 1 milhão. A reserva financeira do hospital, neste valor, já foi comprometida para suprir o prejuízo, e o fechamento implicará em longas esperas na Central de Vagas do Estado", alertou.
  A Unidade de Terapia Intensiva em Aracruz tem uma rotina incessante, com trabalho 24 horas e equipe em revezamento nas oito vagas de UTI e mais as oito de UADC. São 31 profissionais de saúde na equipe formada por sete médicos plantonistas, seis enfermeiras, 16 técnicos de enfermagem, uma assistente social e uma psicóloga. Em média, a UTI tem sempre seis leitos ocupados e, destes, três são com pacientes de Aracruz. Já os leitos de UADC, dos cinco constantemente ocupados, três são por pacientes locais. A UTI foi construída pela Prefeitura de Aracruz, em parceria com o Governo do Estado, e equipada pelo prefeito Ademar Devens, em investimento de R$ 650 mil. A manutenção dos leitos fica por conta do Governo do Estado.
Pronto-socorro precisa de ampliação


Também o Pronto-socorro (PA-SUS) do Hospital São Camilo, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), passa por problemas, sem espaço físico e com pacientes espalhados em macas pelos corredores. A população não é bem atendida, a imagem da unidade é denegrida a cada dia e os profissionais de saúde são ameaçados constantemente de agressões físicas por parte de familiares dos pacientes.
  Por meio do ofício 075, de 25 de outubro deste ano, encaminhado para a Promotora de Justiça Sabrina Coelho Machado Fajardo, o Conselho Curador e a direção do hospital alertam sobre a situação crítica do PA-SUS e informam que a prefeitura foi avisada (ofício 058) sobre a excessiva demanda de pacientes nos últimos seis anos, em virtude do crescimento econômico do município.
  No documento, é informado que o PA-SUS não possui estrutura física e nem dispõe de recursos humanos para atender toda esta demanda, de cerca de 7,3 mil pacientes por mês, o que representa cerca de 244 pacientes atendidos por dia, ou 10 pessoas por hora, no período de janeiro a agosto deste ano, correspondendo a 99% de pacientes de Aracruz (55.620), contra 2.794 de outros municípios.
  Em novembro de 2009 o Conselho solicitou à prefeitura a construção do setor de Acolhimento de Risco no PA-SUS, priorizando os casos urgentes sem risco de morte iminente, com atendimento em até uma hora; pouco urgente com atendimento até duas horas; e casos não urgentes, com atendimento em até quatro horas, ou encaminhamento com destino certo para as unidades de saúde. Mesmo com projeto aprovado pelos vereadores, o recurso não foi repassado e a obra não foi feita, o que inviabiliza cumprir a Resolução do Conselho Regional de Medicina (CRM), que dispõe sobre os parâmetros a serem observados no atendimento médico prestado nos diversos serviços de saúde.
  No ofício 058, o Conselho sugere à prefeitura a contratação de mais sete clínicos para uma jornada de 12 horas/dia, mas não foi atendido. A falta de espaço físico é o maior problema, porque o PA-SUS conta com uma sala para pequenos procedimentos, dois consultórios para atendimento clínico, dois consultórios para atendimento pediátrico, um consultório para atendimento ortopédico, um consultório para atendimento obstétrico, duas salas de repouso adulto, uma sala de repouso pediátrico e uma sala de emergência com dois leitos, para atender 244 pacientes por dia.
  A secretaria municipal de Educação, segundo os conselheiros, está elaborando novo contrato e prometeu disponibilizar duas enfermeiras para triagem dos pacientes, bem como a ampliação física do local, além de tomar providências para os atendimentos excedentes à demanda.

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