22 de junho de 2011

Estudante, impedido de entrar na Casa do Povo

Relato do estudante da UFES Enesto Grillo Rabello

Eu, Ernesto Grillo Rabello, juntamente com quatro colegas do curso de Psicologia da UFES, tive meu acesso barrado temporariamente pela segurança da portaria da Assembléia Legislativa do ES (ALES) e depois submetido à avaliação de um suposto supervisor de segurança que permitiria ou não o nosso acesso à Casa. Fomos barrados por sermos estudantes. Os seguranças ressaltaram que este é um procedimento padrão que tem sido tomado pela ALES devido aos movimentos estudantis recentes acontecidos na cidade.

Nosso grupo vem realizando um trabalho há cerca de três meses na Casa como objetivo de avaliação de duas disciplinas do nosso curso de Psicologia. Nesses três meses temos conversado com Deputados (destacam-se, aí, os Deputados Cláudio Vereza e Luciano Rezende), chefes de gabinete, funcionários de gabinete e funcionários de diversos setores administrativos (seguranças, zeladores, secretários, diretores).

Por volta das 13:30hs do dia 21 de junho de 2011, nosso grupo foi barrado, como supracitado, e nos surpreendemos com os eventos seguintes: o supervisor chegou após alguns minutos, balbuciando de longe algumas palavras (de onde ouvi “baderna”). Perguntou se éramos alunos da UFES e respondemos que sim. Ele, então, pegou o celular e ligou para alguém que autorizou nossa entrada após dizermos aonde estávamos indo (setor de RH). Gabriela, nossa amiga componente do grupo, perguntou ao supervisor se poderíamos entrevistá-lo também (pergunta que temos feito a muitos funcionários da Casa há meses). Ele olhou pra ela com indiferença e não respondeu. Logo depois, eu perguntei a ele seu nome usando a gíria “bicho” (“- Bicho, qual seu nome?”) e ele respondeu com outra pergunta: “-Qual é o seu nome?”. Eu me apresentei e perguntei novamente o nome dele, que respondeu dizendo que não responderia porque “bicho” não é “jeito de estudante falar”. Perguntei a ele como deveria dizer e ele respondeu: “elemento” ou “cidadão”. Respondi dizendo que não usaria “elemento” porque isso é gíria de policial para se referir a criminosos. Ele, então, deu as costas e saiu da recepção. Ficamos sem saber o que dizer ou fazer e seguimos para o setor de RH, onde tínhamos uma entrevista para fazer.

Seguimos andando pela Casa, alguns de nós foram para o RH e os outros seguiram para outros setores, como temos feito desde o início de nosso trabalho. Tentávamos nos focar no trabalho e na coleta dos dados, porém o incidente da recepção não nos largava. Fomos à um gabinete, assistimos a reunião da Comissão de Justiça e seguimos para o Plenário para assistir a Sessão Ordinária do dia.

Estávamos a fotografar e assistir a Sessão quando um Policial Militar (que não é funcionário da Casa) nos abordou perguntando se éramos nós os estudantes que disseram ir para o setor de RH. Vale aqui ressaltar que conhecemos os procedimentos de segurança da ALES, como nos foi explicado em entrevista anterior com um funcionário efetivo da Casa: qualquer suspeito que entra na ALES é seguido e monitorado pelas câmeras de segurança da Casa, para que os Policiais saibam através do seu “Big Brother Parlamentar” se o “elemento” direcionou-se para o lugar onde tinha anunciado na entrada. Feita a ressalva e dando prosseguimento ao relato, confirmamos para o policial que éramos nós os estudantes que foram ao RH. Ele justificou sua intervenção dizendo que ontem haviam esquecido uma mochila na Galeria do Plenário e queria só saber se o pertence era nosso. Dissemos que a mochila não era nossa e ele se retirou. Ficamos sem saber o que fazer enquanto outros policiais continuavam rondando a Galeria (fato que não havíamos presenciado até então nesses três meses de trabalho).

Ficamos visceralmente incomodados com toda a discriminação e suspeita direcionadas a nós, estudantes da UFES. Pensando em ações que pudéssemos tomar para que o fato não passasse impune, decidimos ir à Ouvidoria da Assembléia Legislativa e registrar uma denúncia contra a Casa. A denúncia foi feita, a cópia foi recibada e os papéis estão na minha mão.

É lamentável ver a Casa do Povo lançando mão de práticas discriminatórias e preconceituosas como essas do dia 21 de junho. Sitiam a cidade de modo velado, sutil, pretendendo passar despercebidos. A criminalização dos movimentos sociais e a extensão dessa prática pelos Deputados e administradores da ALES a todos aqueles que supostamente participam dos movimentos nas ruas contra o aumento abusivo dos preços das passagens de transporte coletivo da Grande Vitória é vergonhosa. Sou eu mesmo, Ernesto, um participante orgulhoso do Movimento que temos criado na cidade e sou eu, também, testemunha do descaso governista para com o Movimento. Vale ressaltar a importância da mídia capixaba na enunciação de notícias reducionistas e parciais que deturpam o Movimento e que respaldam práticas como essas ocorridas ontem. Em conversa com um segurança da Casa enquanto esperava o supervisor, ouvi que o trabalhador não era a favor do Movimento porque, segundo ele, os estudantes lutavam por causa próprias, apesar de todos os nossos esforços de desmentir esse absurdo (como muitíssimos outros) veiculado pelos jornais. O Movimento é de todos. O abuso é contra todos. Todos são explorados.

Uno meu relato aos muitos outros veiculados abertamente nas mídias sociais por amigos da Psicologia e do Movimento, como Tassio Ventorim e Guilherme Vargas. Me ponho aberto à esclarecimentos e digo que continuarei informando a todos sobre as respostas dadas pela ALES, bem como as ações cabíveis que serao tomadas junto ao Ministério Público.


Ernesto Grillo Rabello


0 comentários:

add nosso Blog e fique bem informado

. - .