6 de junho de 2011

Socialismo ou Fascismo A polícia repressora de Renato Casagrande faz estrago político

Papo de Repórter
Em menos de 15 dias o governo do Estado viveu dois conflitos sociais nos quais se saiu muito mal. O Papo de Repórter analisa os estragos políticos que podem gerar a marca de um governo repressor no futuro de Renato Casagrande.

Renata: – Nerter, o governo Renato Casagrande entra em seu sexto mês preocupando os meios políticos e me deixando apavorada. Em 15 dias, o Estado viveu dois conflitos sociais e o governo do Estado agiu de uma forma desastrosa em ambos. Ainda discutíamos a ação truculenta e desproporcional na desocupação de uma área ocupada por mais de 300 famílias em Aracruz quando somos surpreendidos pela nova atuação do choque, reprimindo violentamente uma manifestação de estudantes, invadindo o campus universitário e prendendo os supostos líderes do movimento. O que falta mais, espancar velhinho? Torturar animais? Tá feia a coisa.
Nerter: – Acho que só quem esteve diante daquela movimentação toda consegue visualizar a desproporção da coisa, porque o restante da imprensa tratou a coisa como baderna. O comando da Polícia Militar se defende dizendo que agiu porque os manifestantes se recusavam ao diálogo e estavam impedindo o direito de ir e vir do cidadão. O que foi a desorganização de um movimento que não tinha lideranças estabelecidas de forma clara e, por outro lado, uma ação extemporânea da tropa de choque. É bom lembrar que os militares estavam posicionados, prontos para o ataque, desde o início do protesto. Por que a demora em restabelecer a ordem? E, agora o pior, qual a justificativa para os outros enfrentamentos – ocorridos nas imediações da Ufes e na extensão da avenida César Hilal?
Eram estudantes que estavam com paus e pedras e a polícia com bombas, balas de borracha e cães, sem falar no treinamento próprio. Não foi uma luta justa. Pior ainda foi em Aracruz, onde o movimento, no momento da desocupação, estava desarticulado e em sua maioria tratava-se de mulheres, crianças e idosos. Sem entrar nos méritos, o governo é responsável pelo que aconteceu.
Renata: – Parece que entramos em um túnel do tempo e fomos parar na época da ditadura, em que qualquer manifestação popular era reprimida com violência pela polícia. Isso não vai repercutir bem para o governador Renato Casagrande, que, assim como no caso de Aracruz, estava em Brasília. O governador é socialista, o vice-governador, Givaldo Vieira, disse ter tentado conversar com uma comissão de manifestantes, é petista. O Estado tem a ministra da Mulher, Iriny Lopes, e a presidente Dilma foi uma ativista política em sua época, chegando a ser presa e torturada. Como será que ela vai ver essa atuação do governo capixaba, hein?
Nerter: – Hum... se a relação de Renato Casagrande com o governo federal já não é das melhores, imagina com esses episódios. Vai ser difícil convencer a opinião pública de que o governo não tem nada a ver com isso. A atuação do Batalhão de Missões Especiais (BME) é subordinada ao comando da PM, ao secretário de Segurança e ao governador do Estado, e alguém vai ter que responder por isso. A entrada no campus universitário, que é área federal, torna a coisa ainda mais grave.
Renata: – A reação foi imediata. Os movimentos organizados já se manifestaram e a situação está ficando ruim para o governo. Casagrande terá que assumir o controle da situação ou vai comprometer seu restante de mandato. Ele pode até governar sem o apoio político, mas sem a aprovação popular será muito difícil manter a situação sob controle até 2014. Além dos mecanismos de controle da classe política, um dos trunfos que Paulo Hartung tinha para manter sua hegemonia política, era a imagem. E convenhamos que a imagem que Casagrande está construindo é péssima. Não estou dizendo que ele mandou a tropa avançar sobre os estudantes, mas ele é quem vai pagar por essa ação. Ele é o governador e tem que responder por isso. E quando digo ele não estou falando de uma nota oficial e sim colocar-se pessoalmente sobre o assunto. Mas no dia seguinte aparece o governador em um evento no palácio Anchieta, sorridente e indiferente ao que aconteceu. Isso não pode.
Nerter: – Até porque temos sempre que lembrar do discurso de posse do governador. Ele prometeu um governo voltado para o social e tem tido ações positivas nas áreas de atendimento, como o recém-lançado “Estado
Presente”, mas isso não apaga a necessidade de manter o Estado democrático, garantindo à população o direito de expor sua opinião. Como andei dizendo nas minhas redes sociais, desobstruir avenidas é uma coisa, mas os militares promoverem uma caça aos estudantes e, sobretudo, de forma tão violenta, é outra. Isso leva à reflexão sobre que tipo de atenção ao social Renato Casagrande quer dar. Que tipo de política pública ele quer oferecer para a população?
Renata: – Uma leitura que pode até ser exagerada, mas não deixa de ser uma leitura, é o fato de o comando da tropa também partir da Secretaria de Segurança, e sabemos que a cúpula da Segurança é ligada ao ex-governador Paulo Hartung. Mais uma vez estariam entrando em conflito o novo governo e o antigo? Também não quero com isso desviar a responsabilidade do governador. Afinal, quem responde pelo palácio Anchieta é ele, mas é um ponto que não pode deixar de entrar nessa análise. Se bem que o único secretário que apareceu na delegacia – não para resolver a situação dos detidos, é verdade, mas para acompanhar o trabalho da Polícia – foi Henrique Herkenhoff. Mesmo assim, entrou mudo e saiu calado.
Nerter: – Bom, para o futuro do governador Renato Casagrande a coisa pode ficar complicada. Ele tem uma vantagem no fato de a imprensa corporativa ter comprado a causa do governo. Desclassificando o movimento e acusando os estudantes de promoverem a baderna, acaba blindando o governo. Mas as informações correm rapidamente nas redes sociais e a ação de quinta-feira aumentou a mobilização para a mobilização da sexta-feira.
Renata: – Um conflito com estudantes é tudo que um governador de Estado não quer. As imagens não ficaram restritas à imprensa capixaba, e a mácula já foi feita na vitrine tão bem lustrada de Casagrande. É preciso uma ação mais efetiva no sentido de recuperar a imagem do governo do Estado, mas o estrago inicial já foi feito. Estamos falando de contradição entre ideologia defendida e atuação administrativa. Quem vem do movimento social não pode ter uma atitude dessas. É negar o seu passado e o que levou o governador a ser quem ele é hoje.
Nerter: – É verdade. O confronto deve gerar mais indignação e levar a outros confrontos, a uma mobilização maior. Essa tentativa de partidarizar o movimento não se sustenta neste primeiro protesto, mas os demais, sim, podem abrir a brecha para que os partidos façam a festa em cima da imagem de antidemocrático de Casagrande.
Renata: – O governador não está sabendo lidar com a situação, deve tomar as rédeas e tentar remediar o estrago que foi feito. Outros movimentos virão na onda deste, e se ele não tomar uma posição vai ser atropelado pelo momento histórico e não vai ficar nada bem na foto.

0 comentários:

add nosso Blog e fique bem informado

. - .